7.10.05

 

Meditação em Final de Campanha

Para prevenir euforias eleitorais, convém dizer já que em Lisboa ganhará provavelmente quem não merece.

A pessoa que mais parece vocacionada para a função – Maria José Nogueira Pinto – é a última nas sondagens e dificilmente daí sairá. Mas em todo o período de campanha foi a mais convincente nos propósitos e até no interesse do cargo.

Tem contra si o espectro do Partido de Paulo Portas, maior óbice a vencer que toda a verborreia demagógica dos seus directos contendores, em especial, a do candidato filósofo peralvilho, que descobriu o filão que tem em casa, mostrando politicamente a mulher pelas ruas da cidade, quando ainda há tempos ameaçava fotógrafos que a queriam captar a ela e ao bébé, agora também mobilizado. Maria José não ganhará, mas pode regressar noutra conjuntura.

Para os outros, é tudo tarefa política : ou a mando do Partido ou por falta de alternativa melhor, afastado, por momentos, o palco da Governação.

A saturação com a demagogia actual faz com que desvalorizemos coisas importantes, que nos tempos da Ditadura entusiasmavam os nossos pais.

Hoje, parecemos aquelas personagens blasés dos romances do século xix, enfastiados com tanta aldrabice política, tanta putrefacção ideológica aos ares aventada, entre cortejos carnavalescos de amesendados em exercício ou com esperança de o serem a breve prazo.

Há anos, o perspicaz Jean-François Revel escreveu um livro intitulado «Como Acabam as Democracias», cujo conteúdo já não retenho. Mal sabia ele, então, mais preocupado com as ameaças de Leste, agravadas pela complacência ou inconsciência dos ocidentais, os tais que nas Praças e nas Avenidas da nossa velha Europa gritavam com desassombro : better red than dead/antes vermelhos que mortos, assim preconizando a rendição ante os Soviéticos.

De onde virão hoje as ameaças ao regime democrático ? Do Leste já não será, do socialismo ou do comunismo tão-pouco, tão residual ele se afigura no Mundo. Já nem o velho Fidel assusta os americanos ou os europeus.

Talvez só a Coreia do Norte ou o terrorismo islâmico, pela possibilidade de utilização das armas nucleares, salvo, naturalmente, a China, que escaldada com a Perestróica soviética, concebeu uma espécie de quadratura política do círculo : adoptou o Capitalismo como sistema económico, sob a direcção férrea do Partido Comunista, sem liberdade de existência de outros partidos, nem as demais prerrogativas dos regimes políticos em que o Capitalismo floresceu.

Todavia, a degenerescência das Democracias, como as conhecemos na Europa, mesmo nos países mais desenvolvidos, é um facto insofismável.

A alienação das multidões facilitada pelos Media e pelas técnicas de Marketing vai-se generalizando, conduzindo as actuais sociedades a níveis de participação política cada vez menores, o que, diga-se, não parece preocupar muito os seus dirigentes, contanto que continuem a dirigir, com as benesses intocadas.

Como conseguiremos reverter a presente degradação política nas nossas Democracias ?

Como lograremos salvar o estado de bem-estar social europeu, que nos põe a recato da selvajaria ultra-liberal ?

Eis duas questões que merecem a nossa mais séria meditação.

AV_Lisboa, 07 de Outubro de 2005

Comments:
Amigo, imagino o redemoinho politico que deve estar ai em Portugal; espero que as pessoas reflitam e que escolham o melhor, para o governo.
Esperando mais calma e mais opções e que este maravilhoso povo tenha quem por ele olhe e não faça um governo egoísta e nem egocentrico.Que tenham um governo para o povo.
Semeadora
 
Best regards from NY! » » »
 
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